Maria Inez Siqueira

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

FAZENDO O CÉREBRO FUNCIONAR

ESTAMOS LIGANDO NOSSOS CÉREBROS.

O texto que posto abaixo com a devida permissão da escritora, a jornalista Nathalia Ziemkiewicz é mais um indicador de que os tempos estão de fato mudando para melhor, e por mais que choque ou doa, a verdade precisa ser dita, assim como a hipocrisia precisa ser desmoronada. Séculos de falsidade e moral hipócrita precisa ser desmoronado para que então, e somente então, possamos estar de posse do auto conhecimento, e a luz possa brilhar. Falo aqui da luz da verdade sem falsa moral, respeitando a humanidade das pessoas, e não a palhaçada da moral mentirosa daqueles que se escondem atrás de uma camada grossa de verniz, para poder viverem uma personagem imaculada, forjada talvez em milhares de anos, pelas igrejas cristãs  e pela superficialidade do ser, legando a si mesmas o direito de debochar e condenar, pessoas que por seu excesso de confiança, ingenuidade, ou por descuido acabam expostas, vítimas de gente sem sem escrúpulos e invasivas.
Sim, faço minhas as palavras dessa jovem jornalista, nesse texto comovente e revelador, da nossa humanidade tal como de fato é. Não merecemos punição por sermos exatamente como fomos feitos, assumindo nossas fantasias e desejos. Cada pessoa é o que é, e o é porque assim foi concebida pela divindade criadora, com todos os atributos sensuais e sexuais que não excluem a bondade, a inteligência, o amor. 
Me aborrece ver a formação de uma humanidade idiotizada desde o surgimento da igreja cristã, que se sente superior por ter aprendido a amputar de si, a sua verdade, a verdade divina de ser uma criatura livre. Atentado ao pudor deveria ser filmes e novelas que promovem ódio, vingança, dor, sangue e destruição, e que são vendidas para o mundo todo, com uma humanidade ávida de ver o sofrimento e a desgraça, isso sim é que é atentado ao pudor.
 O texto dessa corajosa jornalista, Nathalia Ziemkiewicz,  pode parecer o final dos tempos para os que seguem com a venda nos olhos, e de fato é o final dos tempos de hipocrisia e falsidade. Ainda correrão muitos e muitos anos até essa transição ser levada a cabo, mas toda longa caminhada começa com os primeiros passos. Um dia a humanidade chegará lá, e será então maior, mais forte, mais feliz, porque mais justa, menos arrogante.

"Fran"
Meu celular acabou de apitar avisando uma mensagem nova no Whatsapp. Era um vídeo de 13 segundos em que você aparece fazendo um boquete e perguntando ao câmera: “quer meu c*zinho apertadinho?” – fazendo um sinal de OK. Eu deveria ter achado graça, caído na gargalhada e compartilhado com outros contatos. Porque, afinal, é só mais uma “vagabunda que se deixou filmar” e cujas imagens acabaram vazando para milhares (milhões?) de desconhecidos. Como se nenhuma moça “direita” pudesse chupar um pau ou ficar de quatro. Como se ninguém falasse baixarias a dois. Como se fosse absurdo realizar a fantasia de ser filmada enquanto transa.

Eu não te conheço, mas descobri que você é uma universitária de 19 anos e mora em Goiânia. Não sei quem era o cara do vídeo nem a relação que você tinha com ele. Se era amante, namorado, marido, affair de uma noite. Se você foi “ingênua” ou “safada”, se tem uma índole boa ou ruim. Simplesmente não interessa. Nada disso justifica o massacre contra você e sua família. Qual o tamanho da sua dor agora? Soube que você não está frequentando as aulas e foi afastada da loja de roupas em que trabalhava por causa do assédio. A delegada que cuida do seu caso disse que você disfarçou a aparência para não ser reconhecida, que está abatida de tão triste.

Lamento muito por todos os comentários grotescos e ofensivos que têm circulado na internet. Eles foram feitos pelas mesmas pessoas que acreditam que, se estava de saia curta na rua, pediu para ser estuprada. Tipo: não queria ser exposta, então não deveria ter se deixado filmar. É uma lógica machista que inverte os valores. Você é puta – e não o cara, um mau-caráter. Querida, nossa sociedade está mergulhada nos próprios pudores. Não há nada de errado no que você fez. A cretinice da história toda pertence somente àquele(a) que primeiro repassou o vídeo de um celular privado para uma rede infinitamente invisível.

Espero que você tenha visto a página Apoio à Fran, já com quase 2 mil apoiadores no Facebook: “ela é a vítima”. Sabe, em 2006, uma jornalista que eu venero contou uma história parecida com a sua. Fotos de uma garota de 20 anos transando com dois caras foram parar no Orkut. Ela e a família precisaram mudar de cidade para recomeçar a vida publicamente destroçada. Eu desejo que você consiga se perdoar. Posso imaginar a culpa e a vergonha que você está sentindo. E torço para que os leitores dessa carta sejam mais humanos e menos hipócritas do que eu tenho visto por aí. A foto desse post é o abraço que eu gostaria de te dar.
Nathalia Ziemkiewicz, jornalista e autora do site Pimentaria".



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